A periferia é desconsiderada pelo programa de coleta seletiva de lixo de São Paulo. Nas Subprefeituras de Parelheiros e M'Boi Mirim, na zona sul; Perus, na zona norte; e São Miguel e Ermelino Matarazzo, no lado leste da cidade, todo o lixo coletado oficialmente vai para aterros - o que significa que 21 dos 96 distritos da capital não têm nenhum atendimento do sistema municipal.

Entre as 31 subprefeituras, 20 separam menos de 1% do coletado. E muitas vezes o que impede que se desperdice tudo são catadores informais. Na lanchonete onde a operadora Dilma dos Santos, de 38 anos, trabalha, em Perus, por exemplo, os materiais recicláveis são recolhidos por um caminhão informal que passa periodicamente no bairro. 'Nossa quantidade de lixo passou a ser muito menor depois que passamos a reciclar. Economizamos até em sacos plásticos.'

Representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), Roberto Laureano Rocha defende a criação de contratos localizados para minimizar o problema.

De acordo com ele, a cidade tem 21 centrais de triagem, mas precisa de pelo menos 70. No entanto, observa que falta diálogo com a administração municipal. 'Precisamos de vontade política', afirma Rocha.

O urbanista Nabil Bonduki, que coordenava a política de resíduos sólidos do governo federal até o mês passado, afirma que mudar a atual situação envolve muitas questões. Além do aumento do espaço de triagem, é necessário espalhar postos de coleta por toda a cidade.

'Além de melhorar a infraestrutura, é preciso ser feito um trabalho mais profundo nas escolas, nas entidades da sociedade. Precisa haver um processo de educação continuada para que isso possa acontecer', afirma Bonduki. A educação também é importante para aumentar o porcentual de material separado que poderá ser realmente aproveitado para a reciclagem, segundo ele. Bonduki cita como exemplo positivo nessa área a cidade de Londrina (PR), que atingiu o índice de reciclagem de 19% do lixo produzido. /ARTUR RODRIGUES